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SAMBISTA DE FATO - ELIZEU FELIX

ELIZEU FÉLIX

Por: Helenice Castro

Uma vida dedicada ao samba
Natural do Andaraí, bairro da zona norte do Rio de Janeiro, Elizeu Félix começou a tocar pandeiro ainda menino. Na adolescência já integrava a orquestra da Rádio Clube do Brasil, onde conheceu Luna e Marçal, que viriam seus parceiros no trio de percussão que se fez presente em toda gravação de discos durante décadas. Os três tornaram-se figuras míticas para os admiradores do samba, na fase áurea do disco no Brasil. Difícil é encontrar uma gravação, entre os anos 50 e 80, sem a presença de pelo menos um deles.
Foi de tal importância a criatividade percussiva do trio que até os dias de hoje, são referencial para as novas gerações de percussionistas. Aos ouvidos dos conhecedores e admiradores de samba, é impossível passar desapercebidas as batidas inconfundíveis de seus tamborins. Se entendiam pelo olhar e um sabia exatamente o que o outro ia fazer. Cada um fazia no tamborim uma batida diferente que, juntas, produziam um efeito realmente impressionante. Não tinha pra mais ninguém.
O trio deixou sua marca registrada em discos de ícones da música brasileira como Clara Nunes, Roberto Ribeiro, Beth Carvalho, Alcione, João Bosco, Paulinho da Viola, Chico Buarque, para citar alguns. Elizeu participou de várias caravanas que viajaram pelo mundo com a missão de mostrar a música brasileira, acompanhando Humberto Teixeira, Ary Barroso e outros. Conhecido a admirado pelos amigos por seu sorriso fácil e farto, Elizeu se destacava também pelo malabarismo com o pandeiro e foi graças a essa sua genial habilidade que realizou diversas temporadas em famosas casas noturnas do Rio de Janeiro e de São Paulo, durante as décadas de 50 e 60.
O percussionista relatava ter visto coisa nessa vida que até Deus duvida, como por exemplo, passar uma semana no Deserto do Saara sem conseguir comer, porque, enquanto ofereciam banquetes ao pessoal da caravana brasileira, havia gente morrendo de fome na rua. De contra partida, comentava sua passagem por Mônaco, onde tocou para a realeza e dizia que o seu maior prazer de haver estado ali, foi conhecer a princesa Grace Kelly. Mas sobre isso o músico dizia ser melhor não falar, pois não iriam acreditar.
Por um desses motivos difíceis de entender e de explicar, Elizeu desapareceu do meio musical no final da década de 80 e, após 14 anos, em junho de 2003 foi casualmente encontrado levando uma vida de dificuldades, guardando carros em uma rua da zona sul do Rio de Janeiro. A notícia correu o Brasil e o mundo e virou capa do caderno de cultura de um importante jornal do Rio de Janeiro, foi convidado para algumas modestas participações em gravações de discos e shows, recebeu muito carinho dos amigos e admiradores, mas logo caiu outra vez no esquecimento. Viveu os três últimos anos de sua vida abrigado no Retiro dos Artistas, no Rio de Janeiro e no dia 13 de fevereiro último, veio a falecer. Sem velório, foi sepultado em cerimônia simples, com a presença dos que zelaram por ele nos últimos dias de vida. Junto com ele, um pandeiro, fiel companheiro de toda uma vida de dedicação e amor ao samba.

Comentários

  1. Elizeu Félix, um camarada que merecia um reconhecimento muito maior do que o que possuiu, um músico nota 10 e uma pessoa simples, humilde. Um cara magnífico. Parabéns pelo texto, Paulo!

    Como curiosidade, segue o que acho que foi um dos últimos registros em vídeo do Elizeu, interagindo com o Fadas e Palhaços Camaradas, no Retiro dos Artistas.

    http://www.youtube.com/watch?v=KTldqMG8gqA

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  2. PENA!!!!!!TER 5 FILHOS E SÓ DUAS TER DADO TODO,AMOR E TER ENTERRADO.FICAREI SÓ NESSE C............POS TUDO PASSA.E A JUSTIÇA DE DEUS VIRA.

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  3. Ola Helenice. Acabo de ver essa linda e importante matéria, escrevo um Blog com entrevistas a Percussionistas e domingo agora aqui em BH, entrevistei o Daniel Félix (filho do Elizeu) correto? Portanto gostaria de linkar essa matéria lá no posto, com os devidos créditos. OK. Obrigado. www.lucianocuicaplay.blogspot.com

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  4. Muito interessante... valeu! a narrativa é ótima e a história do músico me tocou...

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